Desde o primeiro bebê de proveta, que nasceu na Inglaterra em 1978, a medicina reprodutiva tem se tornado a maior esperança daqueles que precisam de ajuda da ciência para ter um filho biológico…. Para Alessandro Schuffner, especialista em reprodução assistida da Clínica Conceber, a medicina já tem capacidade de diagnosticar quase todos os casos de infertilidade e solucionar pelo menos 90% deles. “Mesmo quando há esterilidade, falta de espermatozoide ou óvulo, é possível utilizar gametas de doadores.”….
Entre os métodos utilizados, o que mais se desenvolveu nos últimos anos foi a fertilização in vitro (FIV). As melhorias incluem o aumento dos índices de gravidez e a diminuição da carga de hormônios recebida pela mulher e da taxa de gêmeos, que é estimada em 30%.
Para fertilizar um óvulo com precisão, as clínicas realizam a injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), variação da fertilização in vitro, que permite injetar um gameta masculino por óvulo. “Com um microscópio que aumenta em até seis mil vezes o tamanho de um espermatozoide é possível selecionar os que não têm problemas de fragmentação de DNA”, explica Schuffner.
De acordo com os especialistas, a avaliação dos embriões aumenta as chances de gravidez, especialmente nos casos em que a mulher tem mais de 35 anos, idade considerada pela medicina como limite para uma gravidez sem riscos.
A gestação tardia é um dos principais fatores que levaram a área de reprodução assistida a se desenvolver continuamente. “É uma realidade cultural. Os casais estão adiando a chegada do primeiro filho por motivos profissionais”, analisa Schuffner.
“Os recursos da medicina reprodutiva são um alento para casais que já haviam perdido a esperança”, diz a médica pediatra Mônica Volpato, 36 anos, grávida de 13 semanas, por meio de FIV. Ela e o marido, o administrador de empresas Rodrigo Guerra, 37 anos, tentaram engravidar naturalmente durante dois anos.
Causas da infertilidade
A medicina considera infértil um casal que não usa métodos contraceptivos e não consegue engravidar mantendo relações sexuais ao menos duas vezes por semana, durante um ano. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), de 10% a 15% dos casais que se formam anualmente terão dificuldade para engravidar. No Brasil este número representa cerca de 120 mil casais por ano.
Antes de se submeter a um tratamento de fertilização assistida, o casal deve investigar as causas da infertilidade. Os especialistas recomendam que homem e mulher façam uma bateria de exames ao mesmo tempo. A investigação inclui um espermograma (contagem de espermatozoides) detalhado, avaliações do útero, ovários, trompas e um perfil hormonal da mulher. Estudando o diagnóstico o especialista define o tratamento adequado.
A dentista Christiane Saboia, 32 anos, e o engenheiro mecânico Guilherme Saboia, 34 anos, ficaram mais de um ano tentando descobrir a causa da infertilidade. “O que se sabia era que eu não ovulava, mas até hoje não sei o porquê”, relata ela, que passou por estimulação e acompanhamento da ovulação e utilizou métodos mais simples, como a relação sexual programada.
O fracasso dos tratamentos realizados em seis anos fortaleceu o desejo de conceber uma criança. “Chega um momento em que você topa fazer qualquer coisa, mesmo ouvindo opiniões adversas das pessoas”, desabafa Christiane, que conseguiu engravidar na quarta tentativa de FIV, dos gêmeos Leonardo e Giovana, que hoje têm um mês de vida.
Prestes a dar à luz seus primeiros filhos, os gêmeos João Vitor e Pedro Henrique, a auxiliar de enfermagem Zenilde de Oliveira, 34 anos, resistiu cinco anos até procurar uma clínica de reprodução assistida. O diagnóstico da infertilidade foi rápido, era a presença de anticorpos no colo do útero, que matavam os espermatozoides antes que estes chegassem às trompas, e um leve grau de endometriose. “Na primeira tentativa de inseminação intrauterina, tive sucesso”, diz.
Entre as principais causas da infertilidade feminina estão a síndrome dos ovários policísticos, trompas obstruídas e a endometriose, doença caracterizada pela presença de endométrio (camada interna do útero que é renovada mensalmente pela menstruação) em locais fora do útero.
Os homens inférteis apresentam, em sua maioria, quantidade insuficiente e baixa mobilidade dos espermatozoides ou varicocele (varizes nos testículos), que pode ser corrigida com cirurgia.
Jornal Gazeta do Povo – Caderno Saúde – Edição 04/03/2009