Dr. Alessandro Schuffner explica como a medicina pode preservar a fertilidade de pacientes oncológicos.
O Instituto Nacional de Câncer estima que, até 2025, sejam confirmados cerca de 704 mil casos da doença a cada ano. Receber o diagnóstico de um câncer, para muitas pessoas, pode significar o início de um período difícil e estressante, no qual outras preocupações e planos acabam sendo deixados de lado. Nesse contexto, é comum que o sonho de ter filhos seja adiado.
Graças aos avanços na medicina, muitos pacientes têm sido curados do câncer e apresentam uma excelente taxa de sobrevivência. No entanto, a quimioterapia, radioterapia e cirurgia utilizadas no tratamento da doença podem afetar significativamente a fertilidade, tanto em homens quanto em mulheres.
O especialista em reprodução humana Dr. Alessandro Schuffner explica que os tratamentos podem afetar a capacidade de gerar filhos de várias maneiras. Em alguns casos, a quimioterapia e a radioterapia podem danificar as células reprodutivas, levando a uma redução na quantidade ou qualidade dos gametas. Isso pode afetar tanto homens quanto mulheres, resultando em uma diminuição na contagem de espermatozoides ou óvulos viáveis. A dose e a duração do tratamento também são fatores importantes que influenciam o grau de dano causado às células reprodutivas.
A incerteza sobre como a gônada (órgão reprodutor) irá responder ao tratamento também é um fator preocupante. Em alguns casos, os efeitos podem ser temporários, mas em outros, podem ser permanentes, levando à infertilidade. Portanto, é importante discutir as opções de preservação da fertilidade com um médico especialista antes de iniciar o tratamento oncológico. Isso pode permitir que eles tomem medidas para preservar a fertilidade e garantir que os pacientes possam ter filhos no futuro, se assim o desejarem. “Muitas vezes, é melhor guardar óvulos ou espermatozóides para, depois, lidar com a ausência deles”, afirma o médico.
A abordagem para preservar a fertilidade masculina é relativamente simples. É possível coletar o esperma do paciente em uma ou mais ocasiões e congelá-lo para uso futuro. Já a preservação da fertilidade feminina é um pouco mais complexa. É necessário estimular a ovulação da mulher e coletar os óvulos maduros através de uma aspiração folicular. Com avanços nas técnicas de reprodução assistida, já é possível estimular a ovulação para garantir a armazenagem de um número maior de óvulos. “Em 28 dias, conseguimos fazer duas aspirações foliculares e guardar dois lotes de óvulos”, explica Dr. Alessandro.
O especialista em reprodução assistida detalha, ainda, que após a cura do câncer, diferentes técnicas podem ser empregadas para aproveitar os gametas congelados. No caso dos espermatozoides, é possível utilizar a inseminação intrauterina, na qual os gametas são colocados diretamente no útero de uma mulher para possibilitar a gravidez. Já com o óvulo congelado, a técnica é um pouco mais complexa, sendo necessária a fertilização in vitro. Nesse caso, é preciso descongelar o óvulo e formar um embrião com o esperma do parceiro ou de um banco de sêmen, para em seguida ser implantado no útero da mulher.
Se a mulher não tem mais útero, seja por causa do câncer ou por outras razões, pode-se utilizar a gestação de substituição, também conhecida como barriga de aluguel. Nesse caso, uma outra mulher, até o 4º grau de parentesco, pode carregar o embrião formado a partir do óvulo da paciente e o esperma do parceiro dela.
Tanto o óvulo quanto o espermatozóide podem ser congelados e usados a qualquer momento no futuro. “Não há problema em utilizá-los no dia seguinte ou 20 anos depois”, pontua Dr. Alessandro. A mudança de cidade, estado ou país também não é um problema, já que empresas especializadas em transporte de material biológico garantem a segurança e integridade do material congelado durante o transporte.